quinta-feira, 19 de março de 2009

Passivo? Não, muito ativo!

Primeiro exercício do 3º curso Jornalismo 2.0: Oportunidades e Desafios na Era Digital, do Knight Center for Journalism in Americas - University of Texas at Austin


ANOS 60: Internet (ainda com status de nome próprio, com capitular) é quase coisa de ficção científica. Desenvolvida em laboratórios de pesquisa militar, nasce como ferramenta de uso restrito, mas seu caráter mundial e descentralizado (a informação circulante está espalhada por diversos servidores) já denuncia um futuro que aponta para a universalização.

ANOS 70: Dos quartéis para a academia, a rede cai nas graças de pesquisadores universitários e ganha impulso com o avanço das pesquisas civis na área de informática. O número de usuários cresce, mas ainda está longe de poder ser dita popular.

ANOS 80: As corporações – setores desenvolvedores de tecnologia ou dela beneficiários em larga escala, como bancos – começam a canalizar recursos para o desenvolvimento de redes que permitem transações financeiras online. Um cartão bancário é uma chave de acesso, embora limitada à rede do banco que o emite.

ANOS 90: Com a consolidação do padrão WWW e os crescentes investimentos em redes de comunicação à distância cada vez mais robustas e velozes, a grande rede finalmente ganha uma cara familiar, pronta para o usuário comum. Homepage, email, comunicador instantâneo, comércio, blog, voip, entre tantos outros, deixam de ser coisa "do futuro" para se integrar ao cotidiano de mais de 1 bilhão de pessoas.

ANOS 2000: O estouro da "bolha da Internet", no início do novo milênio, transforma bilhões de dólares (e um tanto semelhante de idéias mirabolantes de como fazer dinheiro fácil) em pó. A conseqüência mais palpável da crise da (chamada) Nova Economia, além do rebaixamento morfológico do nome da rede (Internet vira internet, com minúscula), é a incessante busca por formas de fazer a rede rentável economicamente. Afinal, se tantos estão conectados, deve existir ma maneira de integrá-los à roda da fortuna. Essa integração, ou ao menos uma boa tentativa, vem com uma revolução na forma de pensar a internet.

O que vai acima é um resumo um tanto genérico da trajetória da internet. Para deixar os laboratórios e ganhar o mundo, a rede foi adequada (quase toda na verdade) ao padrão WWW de visualização de conteúdo, o que lhe valeu o apelido Web. Após o estouro da bolha da internet, pesquisadores e investidores se viram diante de um dilema: como fazer essa estrutura render dinheiro? Uma saída veio quando algumas corporações resolveram aplicar aos negócios o caráter da rede, e não o contrário – àquela altura, restava evidente que cobrar uma taxa de cada pessoa que pretenda ler uma publicação online é uma eficiente maneira de afastar leitores, e que a própria publicação não poderia ser apenas a reprodução na tela do que estava nas páginas impressas. Analogamente, ficou claro que o modelo de negócios tradicional, fincado na gangorra produtor-consumidor, não servia para o usuário da rede, que por definição é dotado de imenso poder de decidir o que deseja ou não ver em sua tela. Essa constatação abalou profundamente as fundações de diversas companhias online, que buscavam se manter economicamente saudáveis graças à receita oriunda da publicidade, até descobrirem que encher o site de banners piscantes era só uma forma de irritar o visitante do site. A crise do início dos anos 2000 pode, assim, ser tomada como o início da transição da Web – de 1.0 para a versão seguinte, maior e mais atual, a Web 2.0.

Era preciso fazer com que o internauta se tornasse consumidor sem forçá-lo a consumir – bastava apenas oferecer, de modo suave, quase imperceptível até, e deixá-lo decidir. Melhor: a idéia era tentar adivinhar o que interessaria ao internauta. Com essa forma de publicidade quase subliminar, algumas companhias ajudam a semear um novo modelo de rede, mais voltado para a participação e o caráter comunitário. De quebra, o cofrinho começa a encher quando os antes ostensivos e irritantes anúncios, que custavam fortunas e rendiam quase nada, dão lugar aos links patrocinados, em que o internauta só clica caso se interesse pelo que é ofertado – e assim, o site que exibe o link é remunerado.
Ao observarmos a internet numa perspectiva histórica, podemos perceber que a mola-mestra dessa transformação é o próprio usuário da rede (não terá sido por acaso que a revista Time escolheu como Personalidade do Ano de 2006 Você – o internauta).Por que obrigá-lo a encher seu computador de programas, se a rede está aí para hospedá-los? E tome webmails parrudos, sites de armazenamento e compartilhamento de fotos, áudios, vídeos, aplicativos inteiros rodando a partir de servidores, e oferecendo funções semelhantes às de suítes de softwares proprietários, que necessitam de instalação e licença de uso (paga, evidentemente), como editores de textos e imagens, planilhas de cálculo, etc. Na Web 2.0, não há consumidores passivos, mas colaboradores de quem se espera atividade e atitude. São eles que testam, desenvolvem e melhoram programas; ajudam na formatação e hierarquização da informação na rede, avaliando e etiquetando (usando tags) o que julgam mais relevante; participam ativamente da ampliação da oferta de conteúdo, que pode ser consultado, comentado e até editado coletivamente (o melhor exemplo é a Wikipedia). Pode-se dizer que a Web 1.0 tentou formar uma audiência e fracassou, enquanto a Web 2.0 apostou na comunidade e prosperou. Do ponto de vista do usuário da internet, a principal mudança é que a tela do computador deixou de ser uma janela para se tornar uma câmera por trás de um espelho – o usuário em si passou a ser o foco, num círculo virtuoso.

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